“Há, neste momento, uma procura desmesurada por veículos elétricos”
O conflito na Ucrânia e o consequente aumento dos preços dos combustíveis, bem como as crescentes preocupações ambientais estão entre os principais fatores que explicam a crescente adesão dos portugueses aos automóveis elétricos. Henrique Sánchez, Presidente do Conselho Diretivo da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), explica em entrevista as vantagens que estes veículos representam comparativamente aos automóveis com motor de combustão interna.
Os números não deixam margem para dúvidas: a mobilidade elétrica está a conquistar cada vez mais terreno em Portugal. De acordo com os dados publicados pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP), entre janeiro e outubro, as vendas de automóveis ligeiros de passageiros elétricos, plug-in e híbridos elétricos aumentaram 21,6%, face ao mesmo período do ano anterior. Sendo que 40% dos novos automóveis ligeiros vendidos durante este ano são movidos a energias alternativas.
Para o crescimento da mobilidade elétrica têm contribuído dois grandes fatores: por um lado, a subida dos preços dos combustíveis fósseis (especialmente após o início do conflito na Ucrânia) levou os consumidores a procurarem veículos movidos a fontes de energia alternativas ao petróleo e menos caras. Ao mesmo tempo, há uma crescente consciência e preocupação dos consumidores sobre as questões ambientais. Isso mesmo é sublinhado pelo presidente do conselho diretivo da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE). “As pessoas hoje estão muito mais sensíveis e têm presente que existe o problema das alterações climáticas, que pode pôr em causa o futuro da humanidade”. Como reflexo desta realidade, há neste momento, “uma procura desmesurada por veículos elétricos”.
Apesar desta evolução, Henrique Sanchéz refere que ainda há um longo caminho a percorrer para atingirmos o ponto ótimo da mobilidade elétrica em Portugal, uma vez que os veículos elétricos representam menos de 1% do total do parque automóvel nacional.
Mas como podemos acelerar esta transição? Para a UVE, a resposta está no combate à desinformação e à contrainformação para desmistificar alguns mitos que ainda perduram sobre o funcionamento dos carros elétricos; pelo aumento da dotação total dos incentivos fiscais para a aquisição destes veículos e por um maior esforço coletivo de todos nós, como sociedade, para fazer a transição para um modelo económico assente nas energias renováveis, limpas e não poluentes. “Há muito a fazer, quer pelas entidades públicas, quer pelas entidades privadas, quer por nós cidadãos. Temos de pensar bem naquilo que queremos para os nossos filhos, porque o futuro é hoje, não é amanhã”, explica o responsável da UVE.
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Soluções de mobilidade elétrica
As seguradoras e os bancos estão atentos ao crescimento da mobilidade elétrica e são cada vez mais as entidades a lançar produtos financeiros desenhados para este segmento. Henrique Sánchez acredita que a disponibilização de mais produtos financeiros dedicados aos utilizadores de veículos elétricos pode mesmo ajudar a acelerar a transição energética. “No caso da banca, a questão do crédito é fundamental, porque o custo de aquisição de um veículo elétrico é mais caro face a um veículo da mesma gama, mas com um motor de combustão interna. Se houver uma facilidade para conseguirmos obter um crédito para um veículo elétrico isso vai permitir a transição mais rápida para a mobilidade elétrica”, explica o presidente da UVE. E adianta: “Não há muitas pessoas que possam pagar um carro a pronto pagamento. E, no caso de um veículo elétrico, se houver alguma discriminação positiva em relação a um veículo com motor de combustão interna, nós agradecemos”.
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Menos custos com o consumo e manutenção
Do ponto de vista financeiro, a aquisição de um veículo elétrico apresenta diversos benefícios comparativamente aos veículos com motor de combustão interna. E, apesar do custo de aquisição de um automóvel elétrico ser mais elevado face aos veículos tradicionais, Henrique Sánchez refere que os utilizadores conseguem recuperar o investimento ao fim de quatro anos, ou mesmo antes, dependendo do estilo de condução do utilizador.
Desse modo, entre as principais vantagens financeiras que a compra de um automóvel elétrico pode representar, destaque para as seguintes:
- Incentivos à compra de um veículo elétrico
Há um conjunto de incentivos e benefícios fiscais associados aos veículos 100% elétricos. No caso dos particulares existe, por exemplo, um incentivo de 4 mil euros para a aquisição de um veículo 100% elétrico. No caso das empresas, há também um incentivo de 6 mil euros para a aquisição de ligeiros de mercadorias elétricos. Além destas vantagens existem outros benefícios (como a dedução do IVA, a isenção do ISV para os carros 100% elétricos, isenção ou redução da taxa de tributação autónoma, entre outros).
- Consumos menos onerosos
A UVE publica mensalmente um estudo comparativo sobre quanto custa percorrer 100 km num veículo a gasóleo, num carro a gasolina e num automóvel elétrico. Sendo que no caso dos carros elétricos são contemplados três cenários diferentes: carregamento na rede pública, carregamento em casa com uma tarifa simples e carregamento em casa com uma tarifa bi-horária.
As diferenças dos custos são assinaláveis. Os encargos variam entre os 10, 54 euros para um carro a gasolina, os 9 euros para um carro a gasóleo, os 3,30 euros para um carro elétrico com carregamentos realizados em casa. Mas os custos podem ainda ser inferiores (2,20 euros) no caso de os carregamentos serem realizados no âmbito de uma tarifa bi-horária.
- Possibilidade de produzir a própria energia
Os veículos elétricos estão munidos de um sistema de regeneração que lhes permite produzir energia. Henrique Sánchez explica como funciona. O mecanismo é semelhante àquele que encontrávamos no passado em muitas bicicletas: havia um dínamo colocado junto à roda da frente. A eletricidade era gerada pelo próprio movimento da roda e com isso tínhamos luz no farol da bicicleta. “A base é a mesma, mas nos veículos elétricos o mecanismo é muito mais desenvolvido. Sempre que eu alivio o pedal do acelerador, o veículo começa logo a regenerar e se eu travo ou desço uma montanha ele ainda regenera mais”, assegura. E exemplifica com o seu caso pessoal: “No meu primeiro carro elétrico – que tive entre 2011 e 2018 – fiz uma folha de cálculo gigantesca com todos os consumos e verifiquei que 26% de toda a eletricidade que consumi foi produzida no próprio veículo. Isso seria impossível no veículo com um motor de combustão interna, porque não posso produzir no meu carro gasóleo ou gasolina. Mas posso produzir eletricidade”.
- Baixos custos de manutenção
Uma outra vantagem advém do facto dos veículos elétricos praticamente não terem encargos com a sua manutenção. Um carro elétrico tem cerca de 1% das peças móveis que tem um carro com motor de combustão interna (conta com cerca de duas mil peças móveis). Já um veículo elétrico tem 20. E como não há fricção nas peças, não há necessidade de sistemas de arrefecimento ou mudanças de óleo. “Quando vou fazer a manutenção do meu automóvel elétrico, de dois em dois anos, é para substituir as escovas do pára brisas, mudar os filtros do ar condicionado e, eventualmente, alinhar a direção ou substituir pneus”, explica o presidente da UVE.
- Benefícios no estacionamento
“Em Lisboa pago um selo da EMEL no valor de 12 euros por ano e posso estacionar em qualquer zona da cidade. Mas há muitas autarquias em que o estacionamento é totalmente gratuito a partir do momento em que o carro esteja identificado como veículo elétrico”, explica o presidente da UVE.
Porque o futuro é hoje, a UVE lançou recentemente o Manual da Mobilidade Elétrica para ajudar os portugueses a compreender melhor o funcionamento dos veículos elétricos. Se tem dúvidas sobre o tema consulte o guia no site da Associação.
Tome Nota:
As escolhas mais sustentáveis e amigas do ambiente refletem-se não apenas no momento em que decidimos comprar um carro movido a uma fonte de energia alternativa, mas também nos investimentos que fazemos, como é o caso das chamadas ‘green bonds’. Consulte esta área do portal do ActivoBank para saber mais sobre obrigações.
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