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Jornal de Negócios por C-Studio

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Liza à volta do mundo

Liza à volta do mundo

Iniciou uma viagem pelo mundo há oito anos, que ainda não terminou. Fez poupanças e vai trabalhando à medida das necessidades, mas, mais do que o destino, são as pessoas e os lugares que encontra, que fazem valer cada momento na vida de Liza Martins.

“Tenho 49 anos, sou portuguesa e cidadã do mundo há oito anos.” É assim que inicia o relato do que foram os últimos anos da sua vida e de que forma sente que está a cumprir o seu propósito. Liza Martins trabalhou durante duas décadas numa das maiores instituições financeiras portuguesas e sempre foi a “viajante do Banco”. Aproveitava todos os fins de semana e férias para pegar na mochila e ir viajar. “Sempre tive aquela vontade de ir, sem ter bilhete de volta. Voltava dos países para onde viajava com o mapa do mundo aberto, contava o que ainda queria visitar e sentia que a vida não me ia chegar para ver tanta coisa em férias”.

Um acaso alterou por completo o seu percurso, mas colocou-a no caminho certo. Em 2012, toda a Europa estava em crise e o seu Banco iniciou um processo de negociação de saída – com uma boa indemnização e uma série de regalias – para os colaboradores que assim o quisessem. “Eu estava com 39 anos e sentia que o comboio da vida estava a passar-me à frente e, ou saltava para ele, ou ficava em terra, onde teria mais 30 anos de trabalho. Eu trabalhava em comunicação e adorava o que fazia, mas a verdade é que estava ali a oportunidade de poder viajar com algum conforto, com uma boa poupança, mudar de vida, seguir o meu coração e fazer algo que considerava que era um sonho”.

Ganhar asas e competências

Do sonho à prática, há muitos passos a dar, mas para quem “nasceu preparada” e já tinha muitos quilómetros feitos, muito do trabalho estava feito. A sua ideia inicial era viajar durante um ano, e levou dois anos a programar essa viagem. “Entre sair do Banco e começar a viajar, estive dois anos em Portugal a fazer cursos para ganhar algumas ferramentas” porque, a verdade, é que um curso superior “não nos vale nada quando andamos pelo mundo”. Liza acredita que qualquer hobbie ou arte “é mais valioso em estrada do que trabalhar num Banco”. Aproveitando a oportunidade que o Centro de Emprego lhe proporcionou, fez um curso de costura, de espanhol e de outras línguas, de barmaid, e até de estética. “Andei por aí a ganhar ferramentas, para correr o mundo de uma forma mais útil. Fui-me preparando e, quando saí, pensei que seria um ano… Já cá ando há oito.”

Aproveitar os desafios como oportunidades

A Índia era um sonho, mas Liza achava que ainda não estava preparada para apreciá-la. Por isso, começou pelo Brasil, correu a  América Central e, do México voou para o Japão – para chegar na altura das flores de cerejeira. “Na Austrália deixei-me estar durante um tempo e aprendi que podia fazer voluntariado nos hostels para pagar a minha estadia. No Sri Lanka tive dengue – a primeira grande aventura de ficar doente em viagem”. Seguiu-se a Índia, o seu país favorito e, só dois anos e dois meses depois, regressou a Portugal. Para sair novamente passados três meses, desta vez para a África do Sul até ao Egito.

Já deu várias voltas ao mundo e viaja por terra sempre que é possível. O relato das suas aventuras é feito sempre com entusiasmo e sem arrependimentos, mesmo nos momentos mais desafiantes. Durante a pandemia ficou na Índia, onde estava a estudar yoga e ayurveda, no que revela terem sido 26 meses intensos: “O universo deu-me oportunidade de ter este tempo, de aprender com vários professores, de praticar, de estudar …foi maravilhoso.”

Dali, foi para o México, onde esteve nos últimos seis meses. Continua a ter momentos em que só viaja, mas também define períodos de dois a três meses, para ficar num local a fazer os seus tratamentos de ayurveda e dar aulas de yoga. “Sinto que posso viajar até ao fim da vida, porque agora tenho como fazê-lo.”

Neste momento, está a começar a montar retiros com parceiros de diferentes áreas, em que aquele traz os clientes e ela faz o trabalho no terreno: encontrar o lugar ideal para ficarem, quais as visitas a fazer e o tipo de experiências que querem oferecer. Além disso, está responsável pela parte da ayurveda e da yoga. De qualquer forma, o mundo ainda chama pela Liza: “Tenho uma lista de 30 países que me falta visitar.”

Cumprir o propósito

Mesmo para quem é desapegado como Liza, que viaja apenas com uma pequena mochila (“é tudo o que possuo”), as saudades também se sentem. “Às vezes sinto falta de alguma comida portuguesa e já houve alturas em que senti vontade de ver Lisboa ou o Porto. Assim como tenho saudades das minhas pessoas e do seu abraço.” Fala todos os dias com as amigas, mas, por vezes, falta o “toque”.

Acredita que somos todos muito diferentes “e ainda bem”. “Costumo dizer que a Humanidade é um puzzle e as peças têm de ser diferentes para encaixar. Infelizmente, a sociedade obriga-nos a sermos todos muito iguais, a fazer com que o puzzle encaixe com peças iguais. Mas está tudo certo em irmos atrás do que sonhamos e do que acreditamos que é para nós. Só assim nos sentiremos realizados e cumpriremos o nosso propósito.” Para quem quer viajar ou questiona esta forma de vida em termos de segurança, Liza garante: “O mundo é lindo, é seguro, e o ser humano é muito melhor do que nós imaginamos”. E deixa uma mensagem: “A minha riqueza são memórias e sinto-me a pessoa mais rica do mundo. Numa vida de viajante, todos os dias acontecem coisas interessantes, todos os dias conheço gente e tenho um momento em que penso: “se morresse hoje, morria feliz”. E acho que é para isso que vivemos.”


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